Era bem feito

Não sei se o presidente Obama vai ganhar a reeleição nos Estados Unidos. E, se querem mesmo saber, não acho que mereça.

A ter fé na última sondagem da CNN que lhe dá uma vantagem de 4 pontos no estado o Ohio a 13 dias das eleições e a magnitude da surpresa que seria o candidato republicano ganhar sem contar com esse estado, diria que Obama está com tudo para ganhar. Mas não é certo. O voto dos militares, das pessoas ligadas a indústrias pesadas como a extracção do carvão ou a indústria automóvel são os grupos que têm mais peso na política do Ohio e o presidente parece ter esse voto mais ou menos controlado. Mesmo não ganhando o voto dos homens brancos, uma demografia necessariamente importante, é capaz de obter votos suficiente no seio desse grupo, no Ohio, para ter a situação sob controlo. E os seus números naquele estado não se alteraram substancialmente, nem com a sua prestação calamitosa no primeiro debate com Mitt Romney, nem desde então.

Mas nada disso interessa.

Este presidente não poderia ter o meu voto. Não o pode ter porque eu não voto nas eleições a que ele concorre. Mas, mesmo que votasse, não o teria. Não, não votaria Romney, esse merece-o muito menos. Votaria branco porque aquele que era o meu apoio a Barack Obama há quatro anos e, muito sinceramente, de então até cá, erodiu-se com a campanha.

O presidente Obama foi eleito sob a bandeira do “Hope and Change”, uma mensagem que ressoava junto dos eleitores mais jovens porque era positiva. É certo que havia uma boa dose de “não votem McCain porque…”, mas havia imenso de “votem em mim porque…”. E posso até posso compreender que, para além das promessas vagas de um tom diferente em Washington, o exercício do mandato tenha demonstrado que Barack Obama é um político hábil e pragmático, mais preocupado com resultados do que com aparências. Mas esta campanha levou esse pragmatismo a um absurdo para que já nem consigo olhar.

Os democratas estavam convencidos, a certa altura, que podiam só, como se diz muito naqueles lados, “phone this in”. Não precisavam de aparecer, bastaria Mitt Romney ser quem é para os votos em Obama se depositarem naturalmente nas urnas, como folhas de outono caindo no chão. O presidente achava que podia “passar pelos debates”, sem se preocupar muito com a substância do que dizia ou com a obrigação de defender o seu registo de quatro anos e, pior do que isso, o seu programa para os próximos quatro. Isso foi um erro que ele, como pessoa  intelegentíssima rodeada de pessoas ainda mais inteligentes, rapidamente procurou corrigir.

É a correcção que eu não posso aceitar. Quando Obama decidiu realmente entrar na campanha, depois do primeiro debate, recorreu ao mesmo pragmatismo que caracterizou o mandato. Não houve esperança, nem mudança, houve lama atirada ao adversário, numa campanha negativa intensiva e metodicamente dirigida a destruir um candidato por quem se diz que o presidente não nutre sequer respeito.

Esta foi a marca de uma campanha que não elevou os Estados Unidos, de um simples e desapaixonado contar de espingardas (baionetas?) até aos 270. É bem capaz de funcionar e isso não é uma coisa má, porque uma presidência Obama será sempre melhor para o mundo que uma presidência Romney. Sim, é capaz de funcionar, mas eu espero mais do Partido Democrático, mais do que espero do Republicano. Exijo mais.

É capaz de funcionar, mas era bem feito que não funcionasse.

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